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A sutil beleza das tragédias

Atualizado: 19 de jul.

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Substantivo feminino.

Tra- gé-di-a.

Plural: tragédias.

1-Acontecimento triste, funesto, catastrófico, que infunde terror ou piedade

2-Peça, geralmente em versos, que termina com um acontecimento fatal.

Sinônimos:

drama, infortúnio, calamidade, catástrofe.

Sendo pragmática: Por que nos desesperamos diante das tragédias que já sabemos que serão eventualmente revertidas, apaziguadas ou esquecidas?

Por que nos dói a dor dos outros, que em princípio, não nos dizem respeito?

Simples: Porque somos humanos e -excluindo os psicopatas- reconhecemos que, na verdade elas -as tragédias dos outros- também nos falam diretamente, como alguém muito sábio que te encontra na rua, segura com força seu queixo e, olhando no fundo dos olhos avisa: “Poderia ter sido você. E você sabe disso.”

A gente sabe. E a gente tem medo, feito a gente tem sangue nas veias. Eles correm bastante juntos, na verdade. E ainda acho que o medo é das poucas garantias que temos.

Mas, então, seguimos a vida fingindo que sempre vai ter amanhã. Fingindo que quem a gente ama sempre vai estar perto. E que sempre vai dar pra se retratar sobre os assuntos mal conversados. Sempre vai dar pra melhorar, pra resolver pendências.

Sempre vai dar pra reverter mal entendidos.

E por mais que no fundo a gente saiba que nada disso é verdade, é melhor não pensar a respeito. Pode ser verdade para os outros, mas não pra gente!? Imagina!

Tragédia se refere à terceira pessoa, nunca a primeira. Acontece sempre “com eles”, nunca “comigo”.

Mentira.

Tragédia é feito ar. Ela está, ela é, ela paira, sem precisar ser visível nem anunciada.

Ela permeia tudo.

Entra aonde bem entender, na hora que quiser. É garantia muito mais segura que a felicidade.

Nem pros mais metódicos, matemáticos, controladores: ela também aparece:

A corretora que opera seu patrimônio perde o selo, ações caem empresas quebram sem que você pudesse antever.

Um avião bate numa torre em Nova Iorque. Depois em outra.

Desencadeia-se uma nova ordem mundial.

Quem poderia imaginar?

Nem o mundo de exatas e tão exato assim. Aceitem.

E no momento da morte, ou de qualquer tragédia que interrompa o curso tranquilo desejado pra vida, finalmente realizamos o quanto nós próprios deixamos de viver, acomodados na segurança dos nossos portos seguros imaginários. Percebemos que não temos todo o tempo do mundo. E que, pelo menos no meu caso, o otimismo nato e a ingenuidade sobre os sentimentos em nada interferem as leis maiores do destino.

Então, o que sobra se estamos entregues aos desfechos alheios às nossas vontades?

Acredito que isso, que parece um fim de caminho, um precipício, guarda uma beleza ímpar: A beleza de se reconhecer delicado e frágil num mundo que cobra tanta força e certeza. A beleza de poder respirar sem se massacrar. A beleza de olhar com condescendência para os inimigos, entendendo que há uma rivalidade, mas que esta deve ser ao menos cordial e respeitosa. A beleza de olhar pra trás e, finalmente, ver como foram lindos momentos simples, e se comprometer a ver essa preciosidade nos próximos que se derem.

A beleza do reconhecimento de que precisamos uns dos outros, que precisamos cuidar com genuíno amor, que precisamos ser cuidados também com igual afeto, e que é só isso que fica no fim das contas.

Mesmo diante de um tsunami, vou sempre tentar ver a beleza da força, da liberdade e da autonomia do mar. Tudo isso sem jamais esquecer que novas correntes virão com melhores -e também piores- dias.



 
 
 

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