
Facinho
- Deborah Klabin

- 4 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 20 de out. de 2024
Política, futebol, gosto musical e forma de educar filhos são alguns assuntos que deveriam acabar sempre rápido.
Mas tem uma polêmica que me arrepia a espinha: como devem ser conduzidos -do início ao fim- os relacionamentos amorosos.
Há quem acredite que o que vem fácil, vá embora fácil.
Tem também quem jure que amor é comparável a uma escalada numa montanha dificílima: quanto mais força, machucados e medo, melhor e mais nobre será a vista e a satisfação.
Conquistas dolorosas, manutenção complexa, dia a dia incerto, pouco diálogo ou noites em paz.
Mas precisamos mesmo de todo esse ritual sádico?
Bom… acho péssima a ideia de que o inalcançável é o alvo. Que o sacrifico é obrigatório e que a dor precise estar no pacote do amor… é como um ratinho de laboratório, que só ganham uma ração quando se esforça feito louco. E que quando é preguiçoso, é punido com choques e jejuns.
E tem muita gente que acha que isso se aplica ao amor, ao trabalho, aos esportes…Sem sangue, suor (e nenhuma cerveja), nada ali vale a pena.
Afinal de contas, somos gladiadores ferozes, dispostos a qualquer sacrifício por nossas recompensas (porque se for muito fácil, não tem graça).
Um convite pra jantar, pra ir à praia, pra ver o mar… nada complexo.. tudo isso parece ter que vir carregado de insegurança.
Triunfar é lutar.
Particularmente não insisto e nem faço o outro a insistir.
Quando é legal pra um, normalmente é legal pro outro também. E o mesmo acontece quando não “dá liga”. Quando o vinho vira vinagre, quando a conversa precisa ser tirada de sei lá aonde porque o assunto não flui, quando um café despretensioso começa a parecer com uma reunião de trabalho, quando não se sabe estar vestida adequada, com a maquiagem certa e o cabelo arrumado.
Sinto que a insistência é danosa para as duas partes. Acredito que amar é como conhecer uma pessoa que você quer que seja seu amigo/a pra sempre, só que com o bônus da figurinha premiada da química, da pele, da paixão). É estar ao lado de alguém que quer conhecer suas entranhas, jamais para te machucar, mas sim para curar o que for possível e acalentar o que não for.
Lógico que essa jornada por dentro do outro é como um treino de apneia e que exige coragem. Naquele ponto de oceano, alguma coisa diz “vai que vai ser bonito”.
Lógico que sempre se pode ficar boiando numa ótima, se bronzeando, sem explicar nada pra ninguém, sem pensar em nada. Não tem nada errado nisso.
O que me intriga é como medir a atenção dedicada a quem quer ficar no razo, quando você acha que mergulhar fundo à dois pode ser lindo.
Até quando insistir ou desistir?
Tudo não ficaria mais fácil com menos pudor nas conversas?
Ao longo de dois relacionamentos importantes que juntos duraram 8 anos, sofri muito mais do que deveria (perdoável aos 14 anos)
Talvez eles nem tenham feito tudo por maldade, mas sim porque cultivavam expectativas distintas.
Vida achando que eu precisava ser melhor, mais forte, mais ou menos magra, com roupas mais ou menos discreta, mais ou menos disponível…. Só desisti quando já não havia mais fôlego. Foram batalhas travadas num nada absoluto, que hoje não me fazem ter nenhuma saudade de nenhum deles.
O outro lado da moeda -o deles- me perguntava porquê levávamos aquilo aos trancos e barrancos.
Em um deles, entendi que buscava uma aprovação social entre nossas famílias.
Mas voltando à lógica ilógica do início dos relacionamentos, concluo que a insistência desmedida envenena qualquer relação.
O que mais aprendi até agora foi que o ressentimento e a mágoa são densos e não se dissipam como vapor d’agua: Demora um tempo pro céu ficar azul de novo. Não é tão simples conseguir voltar a reparar graça nas outras pessoas.
Alguém que goste de pequenas ou grandes loucuras parecidas com as suas.
Pra mim, o amor fácil custa tão pouco…
é seduzir sem premeditar e se divertir sem travas. É se sentir livre em todas as esferas.
É a falta de truques, mas cheia de manha.
É beber um vinho rosê no gargalo caminhando na areia numa noite qualquer.
Em pouco mais de um ano solteira, descobri que a solitude é preciosa e linda, e que o amor precisa ser fácil feito corrida, segui se mergulho para logo depoisreconfortante como a textura de edredom de pluma.

















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