Isso não é um bilhete de amor pra você

A cada viagem a trabalho, enquanto você estava distraído tomando café antes de sair pro aeroporto, eu abria sua mala e colocava bilhetes de amor entre as suas roupas.

Isso fazia com que você me ligasse sempre surpreso, feliz, parecendo me amar mais, mesmo quando estávamos tão longe um do outro.

Acho que isso é o que mais sinto falta sobre nós dois: te ver feliz com besteiras. Justo você, tão complexo, tão perfeccionista, tão exigente.

Meus bilhetes eram só papéis com palavras de amor. Mas, o que pode ser maior do que palavras de amor?

Acho que quase nada.

Sendo pragmática: ganhar dinheiro é importante. Ter saúde é crucial. Ser bem sucedido é louvável.

Mas e amar e ser amado?

Não tem curso  que ensine, não tem bolsa de valores que opere essa ação, não tem cirurgia que cure a incapacidade de amar.

E eu te amava tanto, mas tanto, que achava que seria impossível viver sem você.

Senti falta de tudo, inclusive de te escrever essas besteiras.

Talvez com o tempo eu aprenda que a capacidade de amar é resiliente.

Aos poucos devo aprender como e pra onde devo redirecionar tudo que guardo em mim. De toda forma, ainda não me convenci que vou amar tanto de novo, a ponto de colocar fragmentos de amor na mala de mais ninguém.

Então escrevo bilhetes sem destinatário em forma de textos, contos e poesias para um novo livro.

Você sabe tão bem quanto eu o que quero dizer.

Ninguém mais precisa entender.

Todos os bilhetes que não escrevi seguem vivos dentro de mim.

Mesmo sem bilhete nenhum na sua mala, pode carregar a certeza de que eles nunca vão deixar de existir. Então leve-os pra onde você for.