Como ir embora sem sair para lugar nenhum
- Deborah Klabin

- 18 de mar. de 2024
- 1 min de leitura
Atualizado: 14 de mai.
Estava tudo pronto para ser entregue na sua portaria, que fica a menos de 300 metros da minha porta.
Alguém precisava dar o primeiro passo, isso é bem verdade.
Mas tínhamos tão pouco, que sabíamos que o primeiro movimento seria também o último rumo ao fim definitivo.
Quando não se tem nada, não há nada a se perder. Mas quando se tem um pouco, por menor que seja, a perda é gigantesca. É feito passar uma lâmina no último fio que segura uma espada sobre a cabeça: É pouco, mas é vital.
Então olho para o fim da rua. Vejo seu prédio e sei que você, pra variar, vai escovar os dentes com a minha escova. Em seguida pegará meus óculos de natação e colocará meu elástico de cabelos no seu punho. E eu, mesmo fazendo pouco caso disso tudo, sei que vou, por algum tempo dormir com sua camiseta preta velha borrifada com o resto do seu perfume.
Quando eu sair pro trabalho, vou guardar meus óculos na caixa dos seus.
Esses detalhes muito nossos são tudo o que sobrou. E sei que manteremos tudo do jeito que sempre foi, só por vaidade, para ser o que se manteve em pé por mais tempo.
Desse jeito eu continuo ai.
Desse jeito você continua aqui.
E assim continuamos com nossos truques para não sairmos um da vida do outro.


















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